quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Intelectuais, uma ova

É tipo Lei de Murphy: onde quer que se vá, sempre há um intelectual de meia tigela. Um pseudo-intelectual. Um daqueles que quer falar mais do que o palestrante, mesmo se ele for o maior especialista do planeta em uma doença que ataca apenas o dedão esquerdo de canhotos. Um daqueles que cita filósofos como quem lê a lista do super – mas sem saber se precisa de 100 ou 200 gramas de presunto –, ou então um que jura de pés juntos que inventou algo que já existe, mas como não queria a fama e os louros, preferiu não patentear. Até que alguém roubou a sua idéia. Arrã.

Estes tipos estão nas salas de aula de qualquer faculdade, nas mesas de bar de quase todos os grupos. Mas o que eles adoram mesmo é um evento. Palestra, seminário, debate – qualquer coisa que envolva um microfone e uma platéia, porque pseudo-intelectual que se preze não se contenta com sua própria sabedoria: precisa compartilhá-la em alto e bom tom. Sofre de uma verborragia incontrolável.

Quando a palestra/seminário/debate termina, e o cara do palco – ele sim, o tal guest speaker, convidado para falar – abre espaço para as perguntas, já se vê a mãozinha do amigo de meia tigela a pipocar: Eu! Eu! Eu! O microfone chega até ele e... (bocejos). Nos dois primeiros minutos, todo mundo tenta acompanhar, achando que daquele blábláblá Platão blábláblá Whiskas Sachê pode até sair uma pergunta boa. Só que não sai nem pergunta. Não tem ponto de interrogação, só ponto final. Ponto final. Lá pelas tantas, o povo esquece. Pensa no almoço, o estômago ronca, rói as unhas, fofoca sobre o carinha da fila da frente. A essa altura o pseudo já está quase chegando na pós-modernidade, tendo cumprido todo o trajeto desde a Grécia antiga. Ainda falta um pouco para chegar naquele momento ali, e na relevância do discurso em relação ao que estava sendo discutido – mas às vezes isso nem importa. O que importa é falar difícil e fazer pose-sem-pose.

A arte é um dos campos de atuação preferidos destes tipos. Mas como, aparentemente, não há eventos suficientes para eles soltarem toda sua verve, os pseudo-intelectuais estenderam seu campo de atuação ao papel, fazendo proliferar “textos críticos” que, às vezes, parecem ter sido psicografados pro alguma entidade espírita. E a coisa está ficando notória:

Como muitas pessoas são fascinadas por aquilo que não conseguem entender, a crítica e a teoria das artes abusam. Jonathan Shaughnessy sobre Carsten Höller [artista que está expondo um escorregador, tipo toboágua, na Bienal de São Paulo]: "Esses objetos tentam ao mesmo tempo embrulhar e revelar os sentidos a fim de que inibam a subjetividade e o sentimento de si ao invés de favorecê-los". Tradução possível: depois de escorregar no tobogã a gente fica tonto. – Jorge Coli, colunista da Folha de São Paulo.

Cansei, cansamos. Pronto, falei.

5 comentários:

FêCris disse...

Em termos gerais e ao que diz respeito ao tópico proferido, numa perpectiva parte Freudiana, parte Kanteana e parte inspirada nas teorias de Heródoto, eu diria que sim, concordo com a sua teoria.

hehehhe

boa lulis ;)

Tiara disse...

nem li
odeio palavras. amo corpos.

Tiara disse...

rs, amilga, pensa na utilidade dos pseudos: ir ao banheiro quando fazem perguntas-narrativas em seminários, divertir-se lendo textos que com "destarte" e "mister" e chocar dizendo que gosta de Dan Brown. Rs.


Tavas linda em Beverly Hills com pinta na perna, Angélica. Ops, isso aqui não é msn.



q?

Tiara disse...

Rs, ai, errei ali qndo escrevi e tou com preguiça de consertar.

.... disse...

kkkk. gracias, cariño.

sou pseudo-apresentadora de tv. e acho válido.

hihi.