sábado, 19 de junho de 2010

Dez anos na vida de alguém

Entre os cinco e os 15, dez anos fazem muita diferença na vida de alguém. Isso, ainda bem, vai diminuindo com o tempo, até que você já não sabe mais dizer se aquela velhinha maldita do outro lado do corredor tem 70 ou 80 anos.

Achei fuçando num blog antigo (ai, como eu sou moderna) um poema que a minha amiga Kukinha fez quando tínhamos 15 anos. Eu também escrevia, mas era tudo muito melancólico, muito triste. Ela sempre foi melhor que eu nisso. Cara, sensacional. Abaixo.

Três versões. (Nomeei assim agora)
Por Juliana Marcato (Kukinha - 15 anos)

Ainda bem que eu NÃO dei

Ainda bem que eu não dei
Ainda bem que não rolou
Ainda bem que não foi dessa vez
Que teu jogo não funcionou

Imagina se ontem eu tivesse dado
Acreditado no seu tipo apaixonado
E hoje você mal falou comigo
Mandou um "oi" meio de amigo
Como se nada tivesse rolado
Imagina se eu tivesse liberado...

E você ia sumir de qualquer jeito, sem motivo
E eu ia achar que o problema era comigo
Que bom que você sumiu antes de se revelar
É ótimo não ficar esperando o telefone tocar

Agora cê que fique na vontade
Nem adianta insistir
E quando seus amigos perguntarem
Encara e diz: "não, não comi"

Ainda bem que eu não dei
Ainda bem que não rolou
Se situa, meu bem
Joga limpo que eu dou

Ainda bem que eu DEI

Ainda bem que eu dei
Sem fazer tipo, sem fazer jogo
Assim é mais gostoso
Tava tudo mesmo pegando fogo

Dei querendo dar
Dei sem encanar
Dei sem me preocupar
Se amanhã cê vai ligar

Pode sumir, pode espalhar, pode desaparecer
Foi mesmo uma delícia dar pra você
Se quiser de novo, fica à vontade
Não tenho medo da saudade

Dei na maior fé, na paz
Foi SIM e não TALVEZ
E se você ainda quiser mais
Pega a senha, entra na fila e espera a vez

Ainda bem que eu dei
Tudo lindo, tudo zen
Só uma perguntinha
Foi bom pra você também?

Que MERDA que eu dei

Que lixo, que desperdício
Que triste, que meretrício
Que ódio, que papelão
Que merda, que situação

O que parecia ser tão bom
Foi sem cor, sem gosto, sem som
Quero esquecer o que aconteceu
Não, acho que não era eu

Não sei como eu fui cair na sua
Nesse seu papo de ir ver a lua
Devia estar a fim de ser enganada
Bêbada, carente, triste, surtada

E você se aproveitou desse momento
Fingiu de amigo, solidário, no sentido
Mas no fundo sabia bem o que queria
Como é que eu fui cair nessa baixaria?

Que merda que eu dei
Já esqueci, apaguei
Tchau querido, tenho mais o que fazer
Melhor comer sorvete na frente da TV

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Comofas?

Eu e uma amiga (também solteira) acabamos de nos dar conta de que um dos poucos (raros, praticamente extintos) homens interessantes da firma tinha saído e, no seu lugar, entrou um cara totalmente NÃO (meanning “desinteressante”). Aí eu disse:
- Poxa, fulana... sabe que eu tava pensando nisso. Preciso arranjar outra atividade em grupo pra poder conhecer gente, visto que no trabalho e na academia não tem ninguém que mereça o meu “hihihi capaaaaaaaaaaazzz...” e eu to com preguiça de balada (ai, gente, eu tenho preguiça de conhecer gente em balada... soa meio adolescente... sorry).
Então eu comecei a pensar em possíveis lugares pra conhecer gente e me dei conta (com a minha cabeça limitada e preconceituosa) de que é bem difícil. Quer ver? Você resolve fazer...
- pós-graduação: tá, é um motivo nada nobre pra voltar a estudar, mas, digamos que você decida fazer um curso. Isso significa: muitas pessoas bacanas e inteligentes que têm muitas coisas em comum com você. O tipo de cara que você vai encontrar: provavelmente alguém da sua mesma área de atuação, que tem os mesmos assuntos que todos os seus amigos, vai te levar pros mesmos lugares que você sempre vai e, se vocês forem jornalistas como eu, ele pode ser: 1) um sujinho cafa roqueiro 2) um almofadinha da TV gay 3) um fotógrafo ou radialista cafa
- aulas de idiomas: bom, se você tiver a sorte de fazer em alguma classe que não tenha só adolescentes espinhentos que te chamam de tia, as opções se subdividem por língua. 1) aluno do inglês: corporativo que começou a estudar tarde demais 2) francês: pseudointelectual 3) espanhol: pseudointelectual de esquerda 4) chinês: lê muita revista semanal 4) russo: Se você tá desesperada o bastante pra estudar Russo, pega logo o primeiro cara que passar na rua...
- Curso de degustação: parece uma idéia boa. Um grupo de pessoas bebendo durante uma noite por semana. Divisível em: 1) degustação de vinho, onde você vai conhecer carecas baixinhos gordinhos de meia-idade recém separados e esnobes ou 2) degustação de cerveja: ogros (ponto).

Então eu concluí que a única saída possível é diminuir o tamanho da saia.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quem nasceu pra...

Passei a vida ouvindo e me indignando com aquela construção frasal. Tinha alguma coisa errada, um certo conformismo, uma mediocridade, algo que me incomodava muito. Então eu decidi que não. Que eu lutaria contra aquilo, contra essa enorme força que nos empurra pra dentro da forma, que gruda a etiqueta classificatória nas nossas testas. E fui. E briguei. E lutei. Pouco a pouco, fui percebendo que não adiantava lutar. Essa construção que se aplicou a tantas coisas, dita pela minha vó, pela minha mãe, pelo cara da tv, professores, amigos... ela faltalmente se aplicaria a mim, em uma ou outra circunstância.

Então pra que lutar? Pra que brigar? Se com 3 cliques a gente descobre que não, que nada daquilo que a gente acredita acontece de verdade. Just 'couse you feel it, it doesn't mean it's there. Não adianta brigar, nem ficar braba. As coisas são como são e pronto. E as pessoas são como são, fazem o que fazem e sentem o que sentem, independente da minha (ou da sua) vontade.

Agora me diz. Pra quê negar? Qual o ímpeto de crueldade, qual a parte azeda do estômago, que crueldade gelada no coração leva alguém a nos levar a pensar em algo que não faz o menor sentido?

E, voltando ao tópico inicial, também não adianta sentir inveja do que não se é e nunca se vai ser. Isso só leva a frustração. E não dá pra mudar. Talvez, vá lá, duas encarnações pra frente... mas nessa? Com a criação que eu tive? Com as vontades, os tabus, os sonhos, as aspirações que eu tenho? No way.

"Quem nasceu pra... nunca vai chegar a..." era, a propósito, a maldita, porém verdadeira, construção. Regra assim: feudal, determinista, porca. Contudo, verdadeira.