segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Eu olhava fixamente pro baterista. É a imagem que tá grudada na minha cabeça, ainda depois de todos esses anos: chuva fina, um cara cabeludo segurando um par de baquetas e batendo com toda força que tinha, produzindo aquele som pesado que me hipnotizava. Eu senti ele se aproximando atrás de mim. A mão afastou meu cabelo já molhado. Então eu senti um arrepio na nuca e ouvi, dito baixinho no meu ouvido: "essa música é do caralho, né?". De repente, a bateria não fazia mais barulho, os cabeludos em volta de mim sacudiam as madeixas em câmera lenta, aquela roda punk ficava ma-is de-va-g-a-r… Eu só me lembro de pensar "ih, fodeu".

 Essa não é uma história de amor. Essa é a história do arrebatador poder dos acidentes que estão ali, só esperando pra acontecer. E nós éramos dois carros desgovernados a 120 quilômetros por hora em uma via de mão única. E eu to sempre na contramão.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Sobreviver

Making your dream come true. Você pode viver apenas. A inércia. The numb. Comfortably, como diria o Pink Floyd. É simples. Nascer, crescer sem se meter em problemas. Encontrar algo que você saiba e, minimamente, goste de fazer. Encontrar alguém estável com quem você possa construir uma vida. Ser simples. Ouvir o hit parade, assistir aos blockbusters, ler os best sellers. Aqui é life with no alarms and no surprises Você, assim, pode viver anos, morrer de velhice. Apostar no certo, no fácil, no confortável. Não tome isso como ofensa caso seja o seu life plan, só não é o meu. On the other hand, você pode ter uma banda de rock na época do new wave, se aventurar sozinho pelos canyons de Utah, viajar pela Europa com o dinheiro contado, mudar de cidade buscando mais tesão pelo trabalho, ou por alguém, ou pela vida. Passar o Carnaval em casa se isolando do mundo ou num trio elétrico em Salvador ou parado em um alagamento na Marginal rumo ao mundo. Você pode pegar um British Airways, um Tam com escala no Rio. Ou você pode comprar um Air Canadá sem saber do visto, passar o dia atrás disso e dois viajando pra chegar num lugar que você nunca imaginou existir fora dos épicos filmes medievais. Você pode ir ao cinema ou você pode chorar igualmente assistindo 127 Horas num avião rumo a Londres. Ou assistindo The Kids Are Alright em um voo rumo a Toronto. Você pode ligar a playlist gasta no iPod ou assistir a um documentário sobre o disco que você já ouviu mil vezes, mas sobre o qual nunca parou pra pensar. Você pode sair da faculdade direto pro Mestrado ou gastar os próximos três anos tentando descobrir quem é e quem quer ser enquanto lê os livros. Tem um ônibus que vai levar oito horas pra chegar a Edimburgo andando pelo interior da Inglaterra no meio da madrugada. (escrito na Victoria Coach Station em março de 2011)