quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Limonada

Eu não sou uma pessoa boa. Também não sou uma pessoa ruim. Não sou extraordinariamente bela ou notoriamente inteligente. Também não sou feia ou burra. Altura e peso regulares. Olhos e cabelos castanhos. Pele clara. Cabelo ondulado.

Eu não nasci rica. Nem pobre. Venho de uma família feliz e comum. Meus pais nunca me deram nada que eu não mereci - de bom e de ruim. As coisas boas e ruins que fizeram, aliás, não tem mais a ver comigo que com as próprias vidas deles. Nunca apanhei, nunca bati. Nunca fiz malcriação, nunca demonstrei amor incondicional. Nunca me faltou nada do essencial e eu nunca recebi um "não" pra coisas realmente importantes.

Eu cresci com notas acima da média, mas nunca fui a melhor da classe. Não tinha a melhor redação. Nem a melhor prova de física. Não tenho boa memória, mas não tenho dislexia. Na faculdade, eu era boa porque me esforçava. Não tive facilidade incomum pra nada. Fui bem nas matérias pra quais estudei, mal nas que não me dediquei o suficiente.

Em todos os trabalhos que entrei, foi porque eu realmente mereci. Nem mais, nem menos. Não tive mais nem menos oportunidades do que mereci. Não passei por cima de ninguém, mas nunca ganhei nada de bandeja.

Se a vida te dá limões, faça uma limonada. Eu nunca ganhei limões da vida. Nem açúcar. Eu posso dizer que, em termos de vida, eu sou neutra. As coisas realmente ruins que aconteceram não aconteceram comigo, simplesmente… aconteceram. As realmente boas também não.

Todos os relacionamentos que eu tive na vida, nada nunca foi por acaso. As pessoas que me amaram, me amaram por mérito exclusivamente meu. Elas também deixaram de me amar por mérito exclusivamente meu. Nunca ganhei ou perdi alguém por intervenção da vida, do destino… ou de outra pessoa.

Eu não acredito em destino. Nem em azar ou sorte. Nem em "meant to be". O que tiver de ser só será se eu fizer por onde. As coisas não "acontecem", elas "resultam". Isso não quer dizer que eu seja uma pessoa que "faz", não quer dizer que eu sou melhor que ninguém. Mas eu também não sou pior.

Não acho que todo mundo seja como eu. Tem gente que ganha limões, tem gente que já ganha a limonada feita e tem gente que não ganha coisa alguma, pelo contrário, passa a vida perdendo.

Mas eu to cansada de não ganhar nada. Queria um dia sentar e receber. Pronto. Um limão na minha porta ao invés de chuva na horta que eu cultivo. Não quero cultivar, quero delivery. Só uma vez. Receber e ponto. Caso do acaso. Uma coisa boa para me dar um sorriso no rosto.

domingo, 31 de outubro de 2010

Das coisas que acostumam...

Quando eu tive que ficar sem andar. Três vezes nesses 24 anos.
Ter que passar pro tetor solar fator 50.
Alergia a areia.
O tempo úmido de Porto Alegre.
O tempo seco de São Paulo.
Acordar cedo. Por um período, às 4h da manhã.
Dormir 4 horas por noite.
Trabalhar todos os dias.
Ficar longe da família.
Perder alguém muito querido.
Dividir quarto com alguém que ronca.
Mosquitos no verão.
Barulho de movimento na rua durante a noite.
Andar de salto alto.
Beber sem passar mal toda vez.
Fazer dieta.
Fazer exercício físico.
Abrir garrafa de vinho.
Morar sozinha.
Ser apaixonada por você.
Acordar. Lembrar. Entender.
Seguir em frente.
Sentir saudade.

sábado, 19 de junho de 2010

Dez anos na vida de alguém

Entre os cinco e os 15, dez anos fazem muita diferença na vida de alguém. Isso, ainda bem, vai diminuindo com o tempo, até que você já não sabe mais dizer se aquela velhinha maldita do outro lado do corredor tem 70 ou 80 anos.

Achei fuçando num blog antigo (ai, como eu sou moderna) um poema que a minha amiga Kukinha fez quando tínhamos 15 anos. Eu também escrevia, mas era tudo muito melancólico, muito triste. Ela sempre foi melhor que eu nisso. Cara, sensacional. Abaixo.

Três versões. (Nomeei assim agora)
Por Juliana Marcato (Kukinha - 15 anos)

Ainda bem que eu NÃO dei

Ainda bem que eu não dei
Ainda bem que não rolou
Ainda bem que não foi dessa vez
Que teu jogo não funcionou

Imagina se ontem eu tivesse dado
Acreditado no seu tipo apaixonado
E hoje você mal falou comigo
Mandou um "oi" meio de amigo
Como se nada tivesse rolado
Imagina se eu tivesse liberado...

E você ia sumir de qualquer jeito, sem motivo
E eu ia achar que o problema era comigo
Que bom que você sumiu antes de se revelar
É ótimo não ficar esperando o telefone tocar

Agora cê que fique na vontade
Nem adianta insistir
E quando seus amigos perguntarem
Encara e diz: "não, não comi"

Ainda bem que eu não dei
Ainda bem que não rolou
Se situa, meu bem
Joga limpo que eu dou

Ainda bem que eu DEI

Ainda bem que eu dei
Sem fazer tipo, sem fazer jogo
Assim é mais gostoso
Tava tudo mesmo pegando fogo

Dei querendo dar
Dei sem encanar
Dei sem me preocupar
Se amanhã cê vai ligar

Pode sumir, pode espalhar, pode desaparecer
Foi mesmo uma delícia dar pra você
Se quiser de novo, fica à vontade
Não tenho medo da saudade

Dei na maior fé, na paz
Foi SIM e não TALVEZ
E se você ainda quiser mais
Pega a senha, entra na fila e espera a vez

Ainda bem que eu dei
Tudo lindo, tudo zen
Só uma perguntinha
Foi bom pra você também?

Que MERDA que eu dei

Que lixo, que desperdício
Que triste, que meretrício
Que ódio, que papelão
Que merda, que situação

O que parecia ser tão bom
Foi sem cor, sem gosto, sem som
Quero esquecer o que aconteceu
Não, acho que não era eu

Não sei como eu fui cair na sua
Nesse seu papo de ir ver a lua
Devia estar a fim de ser enganada
Bêbada, carente, triste, surtada

E você se aproveitou desse momento
Fingiu de amigo, solidário, no sentido
Mas no fundo sabia bem o que queria
Como é que eu fui cair nessa baixaria?

Que merda que eu dei
Já esqueci, apaguei
Tchau querido, tenho mais o que fazer
Melhor comer sorvete na frente da TV

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Comofas?

Eu e uma amiga (também solteira) acabamos de nos dar conta de que um dos poucos (raros, praticamente extintos) homens interessantes da firma tinha saído e, no seu lugar, entrou um cara totalmente NÃO (meanning “desinteressante”). Aí eu disse:
- Poxa, fulana... sabe que eu tava pensando nisso. Preciso arranjar outra atividade em grupo pra poder conhecer gente, visto que no trabalho e na academia não tem ninguém que mereça o meu “hihihi capaaaaaaaaaaazzz...” e eu to com preguiça de balada (ai, gente, eu tenho preguiça de conhecer gente em balada... soa meio adolescente... sorry).
Então eu comecei a pensar em possíveis lugares pra conhecer gente e me dei conta (com a minha cabeça limitada e preconceituosa) de que é bem difícil. Quer ver? Você resolve fazer...
- pós-graduação: tá, é um motivo nada nobre pra voltar a estudar, mas, digamos que você decida fazer um curso. Isso significa: muitas pessoas bacanas e inteligentes que têm muitas coisas em comum com você. O tipo de cara que você vai encontrar: provavelmente alguém da sua mesma área de atuação, que tem os mesmos assuntos que todos os seus amigos, vai te levar pros mesmos lugares que você sempre vai e, se vocês forem jornalistas como eu, ele pode ser: 1) um sujinho cafa roqueiro 2) um almofadinha da TV gay 3) um fotógrafo ou radialista cafa
- aulas de idiomas: bom, se você tiver a sorte de fazer em alguma classe que não tenha só adolescentes espinhentos que te chamam de tia, as opções se subdividem por língua. 1) aluno do inglês: corporativo que começou a estudar tarde demais 2) francês: pseudointelectual 3) espanhol: pseudointelectual de esquerda 4) chinês: lê muita revista semanal 4) russo: Se você tá desesperada o bastante pra estudar Russo, pega logo o primeiro cara que passar na rua...
- Curso de degustação: parece uma idéia boa. Um grupo de pessoas bebendo durante uma noite por semana. Divisível em: 1) degustação de vinho, onde você vai conhecer carecas baixinhos gordinhos de meia-idade recém separados e esnobes ou 2) degustação de cerveja: ogros (ponto).

Então eu concluí que a única saída possível é diminuir o tamanho da saia.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quem nasceu pra...

Passei a vida ouvindo e me indignando com aquela construção frasal. Tinha alguma coisa errada, um certo conformismo, uma mediocridade, algo que me incomodava muito. Então eu decidi que não. Que eu lutaria contra aquilo, contra essa enorme força que nos empurra pra dentro da forma, que gruda a etiqueta classificatória nas nossas testas. E fui. E briguei. E lutei. Pouco a pouco, fui percebendo que não adiantava lutar. Essa construção que se aplicou a tantas coisas, dita pela minha vó, pela minha mãe, pelo cara da tv, professores, amigos... ela faltalmente se aplicaria a mim, em uma ou outra circunstância.

Então pra que lutar? Pra que brigar? Se com 3 cliques a gente descobre que não, que nada daquilo que a gente acredita acontece de verdade. Just 'couse you feel it, it doesn't mean it's there. Não adianta brigar, nem ficar braba. As coisas são como são e pronto. E as pessoas são como são, fazem o que fazem e sentem o que sentem, independente da minha (ou da sua) vontade.

Agora me diz. Pra quê negar? Qual o ímpeto de crueldade, qual a parte azeda do estômago, que crueldade gelada no coração leva alguém a nos levar a pensar em algo que não faz o menor sentido?

E, voltando ao tópico inicial, também não adianta sentir inveja do que não se é e nunca se vai ser. Isso só leva a frustração. E não dá pra mudar. Talvez, vá lá, duas encarnações pra frente... mas nessa? Com a criação que eu tive? Com as vontades, os tabus, os sonhos, as aspirações que eu tenho? No way.

"Quem nasceu pra... nunca vai chegar a..." era, a propósito, a maldita, porém verdadeira, construção. Regra assim: feudal, determinista, porca. Contudo, verdadeira.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A primeira luz

Olha, me desculpem todos vocês (cinco) que vão ler esse post, mas eu to mal humorada.

A vida mais plena, confortável e feliz possível nos é dada quando ainda mal se pode chamar de vida aquilo que realmente temos. Então uma mão nos arranca dessa plenitude, a luz nos tira da penumbra perfeita e um ambiente frio nos arranca a comodidade que só o ventre materno proporciona. Então a vida vira um sem-fim de desconfortos. De repente precisamos aprender a separar o necessário do desnecessário. Oxigênio de gás carbónico, nutrientes de restos dispensáveis. Nossa íris precisa aprender a abrir e fechar na busca pela quantidade necessária de luminosidade e nossos tímpanos aprendem a vibrar e transmitir o que o cérebro descobre serem códigos fundamentais pra mais e mais quebras de coração, de paradigmas, de tristeza, de marasmo. Não é à toa que o primeiro som que o ser humano emite é o choro. E também não é coincidência que é a ele que recorremos cada vez que algo nos é arrancado subitamente. A vida é um sem-fim de berros e lágrimas.

365 dias formam o ciclo que parte desse dia fatídico. Como se não bastasse que a cada ano nos seja lembrado o momento em que a vida ficou mais difícil, ela assim se torna cada vez que o ciclo se fecha. Precisamos andar, falar, comer, saber se portar, ir ao banheiro, julgar… tudo sozinhos. Cada vez mais, cada ano mais sozinhos. E o pior: comemoramos a crescente dessa solidão.

Caminhamos para o só, para uma vida independente. Independência ou morte? Independência ou vida! Independência ou conforto! Independência ou companhia! Independência ou colo, ou ajuda, ou compreensão. Independência ou amor incondicional. A independização é um mal necessário. Mais. É um mal obrigatório, é um mal imposto 365 dias do ano, 24 horas por dia, numa crescente desde o dia em que você nasceu. Alguém perguntou se você queria ser independente? Você disse que sim? Agora toma!

Não obstante, você olha ao redor. Um grande suspiro, um passo adiante. Tudo dá medo. Muito MUITO M U I T O medo. Mas vamos lá. "Primeiro o direito, depois o esquerdo". Uma, duas, três. Eu aprendi a caminhar três vezes nos meus (quase) 24 anos de vida. Nenhuma delas foi fácil. Aí eu saí de casa. Uma, duas, três. Saí de casa três vezes. Essa, a derradeira (espero) é tão definitiva quanto difícil. E dói. COMO DÓI! Claro, das três vezes que eu aprendi a caminhar, a última foi a que deu mais medo. Quanto mais velho, independente e cheio de conhecimento a gente fica, mais medo a gente tem. De perder o quê? A capacidade de dar os próprios passos, a independência. Logo ela que foi um péssimo negócio, pra começar a conversa.

Todo ano é a mesma coisa. Chega lá pelo 355° dia e ferra tudo. Só que tá piorando. Ano após ano o caminho em direção à independência (ou à solidão) fica mais sinuoso e me faz pensar mais. Será que eu quero chegar onde eu to indo? Inspira. Expira. Foco no horizonte.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Questão de hábito

Comecei a pensar que tudo na vida é uma questão de hábito. Hábito. Como quando eu tinha 10 anos e descobri que ler me ajudava a fugir da realidade, ou aos 12, quando Titanic me carregou pela primeira vez a pensar como seria a vida dentro de uma grande tela. E é assim que a gente os adquire: quase sem querer. Uma tentativa aqui, uma descoberta ali e foi. Aquilo que era apenas algo que se fazia por fazer vira uma necessidade. Mais. Vira parte do eu mais que da persona.

Eu acredito no amor. Não, isso não é exatamente verdade. Vou reformular.

Eu acredito que duas pessoas possam ser felizes juntas. Eu acredito na força de vontade pra isso acontecer. Eu acredito no perdão, na tolerância, na compreensão. É isso. Não é na aliança, no compromisso, no contrato social que eu acredito. Mas não se engane. Eu também não acredito no frio na espinha, nas borboletas no estômago, no enrubescer das maçãs. Eu não acredito em calafrio, nem em dor física sem motivo, nem em lágrima fria escorrendo no rosto quando se diz adeus. Não me venha com abraço apertado, beijo de despedida, olhares cruzados, pele, mãos, cabelo, língua. Não acredito em fogo nem em nada disso.

Eu acredito em filhos bem criados. Acredito em abrir a porta do carro, em tapar no frio à noite, no almoço na mesa, no "deixa que eu abro o vinho". Acredito na nova receita que eu peguei no livro do Jamie Oliver, na música que tocou na rádio, no "leva um casaco" e "te vejo à noite".

Por isso eu sou uma cética no amor. Eu não acredito na densidade, na depressão, na dependência. Eu acredito na estabilidade, na felicidade, na coexistência. Isso é bom. Isso é sólido: o hábito.

E, ao contrário do "apaixonar" - pra mim sempre tão difícil - eu vejo o desapaixonar com mais facilidade. Desapaixonar não é como largar um velho vício. O fumante não é apaixonado pelo cigarro, o cigarro é parte dele, é pele, é natureza, muito mais que um simples skipped heartbeat toda vez que aparece. Se o amor é hábito, o desamor é recomeço, é racionalização, é trocar de roupa. Simples, tranquilo. O desapaixonar flui, expira. O ar entra, o amor sai.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ai... pronto, falei!

Tô puta.

A Camila tuitou outro dia (sim, agora os comentários das minhas amigas só são acompanhados por mim pela telinha azul do twitter) que a Sabrina proferiu a seguinte frase:

Parece q essas coisas só acontecem p/ nos provar q tudo sempre pode ficar pior.

Então eu to puta com:

1) o que a gente não pode controlar: assaltos, gente estúpida, fenômenos naturais, gente indo embora, gente bipolar, gente que faz de propósito, gente grossa...

2) o que a gente pode, mas não controla: a incapacidade de realmente botar as coisas que me deixam irritada pra fora, a minha incapacidade de xingar as pessoas, a minha incapacidade de elogiar as pessoas, a minha incapacidade de...

3) o que a gente pode, geralmente controla, mas de vez em quando deixa passar. E quando deixa...: os impulsos

4) E com as frustrações. Ah, o sonho não alcançado, a expectativa não atingida, a vida não preenchida, as pessoas que decepcionam e, principalmente, quando a gente precisa desistir de algo que quis e lutou tanto pra ter, mas ao mesmo tempo sabe que é culpa de ninguém exceto sua o fato de ter dado errado...


To puta. Pronto, falei. Mas você, leitor, não vai notar. Porque eu vou, como sempre, com aquele maldito sorriso no rosto, dizer: vai, fala... tá tudo bem.

grrrrrrrrr

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Na lotação…

Chuva. Calor. Ela corre pra dentro da lotação que está quase completamente vazia, exceto por uma senhora gorda, de uns 40 anos, sentada sozinha no banco atrás do motorista.

- Pessoal, ainda faltam 7 minutos para a lotação sair, mas eu vou sair agora porque eu quero passar na padaria - diz o motorista em pé e com ar de humorista frustrado, o mesmo daqueles tios que fazem churrasco sem camisa apesar de terem o físico bem parecido com o da vaca cuja carne espremem contra o metal afiado.

Entra um casal.

- Pra ele eu não vou dizer que eu vou passar na padaria porque ele é muito grande - piada de tiozão (2).

Ela já não está mais ouvindo. Pega o telefone e liga para uma amiga. Algumas risadas ao telefone e um grande "ooooooooooohhhhh" depois, desliga e passa a ouvir rádio. De repente:

- Crrrrrrrrrrrrrrrrrr - pneus deslizando no asfalto escorregadio daqueles dias mais nojentos de chuva. Alguns gritos tímidos. Ela e quase todos os passageiros vão parar no chão da lotação. O motorista ri descontroladamente.

A viagem segue normalmente. Até que…

- O senhor pode, por favor, parar na esquina com a Santo Antônio? - pergunta polidamente ela.

- Não - responde o motorista.

(risos levemente constrangidos) - Não? Por que não?

- Porque eu não quero que você desça da lotação - motorista com ar desafiador, uma sobrancelha mais erguida que a outra e cara de galã do Pelourinho.

(risos constrangidos) - Sério? Ham… mas eu posso descer aqui mesmo, então - diz ela.

A moça estica o braço. Na mão, uma nota de R$ 5. O motorista fica olhando. Olha de volta para ela com a maior cara lavada do mundo. Silêncio.

- Eu te ouvi dar um gritinho lá atrás.

(pensando que ele falava sobre o quase acidente) - Sim, né. Também...

- Alguém morreu?

- Não, eu espero. Tudo bem?

- Tá ficando melhor agora. (cara de cretino)

(risos EXTREMAMENTE constrangidos)

Finalmente ele pega o dinheiro, entrega o troco. Errado. Ela não reclama e desce. Ele buzina insistentemente até ela entrar no prédio.