segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Eu olhava fixamente pro baterista. É a imagem que tá grudada na minha cabeça, ainda depois de todos esses anos: chuva fina, um cara cabeludo segurando um par de baquetas e batendo com toda força que tinha, produzindo aquele som pesado que me hipnotizava. Eu senti ele se aproximando atrás de mim. A mão afastou meu cabelo já molhado. Então eu senti um arrepio na nuca e ouvi, dito baixinho no meu ouvido: "essa música é do caralho, né?". De repente, a bateria não fazia mais barulho, os cabeludos em volta de mim sacudiam as madeixas em câmera lenta, aquela roda punk ficava ma-is de-va-g-a-r… Eu só me lembro de pensar "ih, fodeu".

 Essa não é uma história de amor. Essa é a história do arrebatador poder dos acidentes que estão ali, só esperando pra acontecer. E nós éramos dois carros desgovernados a 120 quilômetros por hora em uma via de mão única. E eu to sempre na contramão.