quinta-feira, 13 de maio de 2010

Questão de hábito

Comecei a pensar que tudo na vida é uma questão de hábito. Hábito. Como quando eu tinha 10 anos e descobri que ler me ajudava a fugir da realidade, ou aos 12, quando Titanic me carregou pela primeira vez a pensar como seria a vida dentro de uma grande tela. E é assim que a gente os adquire: quase sem querer. Uma tentativa aqui, uma descoberta ali e foi. Aquilo que era apenas algo que se fazia por fazer vira uma necessidade. Mais. Vira parte do eu mais que da persona.

Eu acredito no amor. Não, isso não é exatamente verdade. Vou reformular.

Eu acredito que duas pessoas possam ser felizes juntas. Eu acredito na força de vontade pra isso acontecer. Eu acredito no perdão, na tolerância, na compreensão. É isso. Não é na aliança, no compromisso, no contrato social que eu acredito. Mas não se engane. Eu também não acredito no frio na espinha, nas borboletas no estômago, no enrubescer das maçãs. Eu não acredito em calafrio, nem em dor física sem motivo, nem em lágrima fria escorrendo no rosto quando se diz adeus. Não me venha com abraço apertado, beijo de despedida, olhares cruzados, pele, mãos, cabelo, língua. Não acredito em fogo nem em nada disso.

Eu acredito em filhos bem criados. Acredito em abrir a porta do carro, em tapar no frio à noite, no almoço na mesa, no "deixa que eu abro o vinho". Acredito na nova receita que eu peguei no livro do Jamie Oliver, na música que tocou na rádio, no "leva um casaco" e "te vejo à noite".

Por isso eu sou uma cética no amor. Eu não acredito na densidade, na depressão, na dependência. Eu acredito na estabilidade, na felicidade, na coexistência. Isso é bom. Isso é sólido: o hábito.

E, ao contrário do "apaixonar" - pra mim sempre tão difícil - eu vejo o desapaixonar com mais facilidade. Desapaixonar não é como largar um velho vício. O fumante não é apaixonado pelo cigarro, o cigarro é parte dele, é pele, é natureza, muito mais que um simples skipped heartbeat toda vez que aparece. Se o amor é hábito, o desamor é recomeço, é racionalização, é trocar de roupa. Simples, tranquilo. O desapaixonar flui, expira. O ar entra, o amor sai.

2 comentários:

Luísa Helena disse...

Não desista do amor, gata. Um dia ele chega, com tudo isso que descreveste como algo em que não acreditas que existe. Com borboletas no estômago, calafrios e uma sensação ótima de bem-estar.
Mas concordo que o desapaixonar é, muitas vezes, mais fácil. Ainda mais hoje em dia. Não sei o que está acontecendo, mas vejo cada vez mais amigas - próximas ou não - frustradas com as relações homem-mulher. Não sei se alguma coisa mudou ou se fomos nós que mudamos. Mas eu ainda acredito que o amor está aí em algum lugar. Resta encontrá-lo.

Beijos!

Gustavo B.Rock disse...

Muito bom teu texto e tua opinião, Fécrs.