sexta-feira, 26 de junho de 2009

As estrias

Uma amiga disse que crescer dá estrias. Nunca esqueci disso e me ajudou, de certa forma, a lidar melhor com os sentimentos difusos que dar um passo à frente nos desperta. É tão difícil.

Eu, que aprendi a caminhar tantas vezes (várias cirurgias) e nunca me abalei muito com isso, lido deforma muito diferente quando me deparo com os passos maiores: aqueles que dependem menos da coordenação motora e mais da motoridade do coração. São 5 anos de análise sobre o mesmo tema: libertação. E, finalmente, chegou. Não totalmente, mas é o princípio do fim.

Tão dúbio quando as lágrimas que deixam o meu rosto mais frio é o sentimento de deixar o lar. Home is where I wanted to go, so I went home. Mais ou menos isso diz aquela música que eu lembrei aqui quando o meu avô me deixou e é a ela que eu recorro quando parte de mim também morre, para outra parte poder viver.

Eu pareço boa nessa coisa de me desprender. Sempre (aparentemente) fiz isso com muita facilidade. Quando fui viajar, e tive a "falsa" experiência de deixar a casa pela primeira vez, usei a música o que se lê abaixo.

Já vou, será
eu quero ver
o mundo eu sei
não é esse lá

por onde andar
eu começo por onde a estrada vai
e nao culpo a cidade, o pai

vou lá, andar
e o que eu vou ver
eu sei lá

não faz disso esse drama essa dor
é que a sorte é preciso tirar pra ter
perigo é eu me esconder em você
e quando eu vou voltar, quem vai saber

se alguem numa curva me convidar
eu vou lá
que andar é reconhecer
olhar

eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou

Eu escrevo e te conto o que eu vi
e me mostro de lá pra você
guarde um sonho bom pra mim

eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou

Então eu fui... andei, descobri esse alguém e hoje talvez eu saiba menos sobre quem sou - o que é bom, acreditem. E já que andar é reconhecer, reconheci em mim tudo o que ficava escondido em você, em todos os vocês que fazem e fizeram parte dessa vida. Eu fui, andei um caminho só. Não fiz disso esse drama, essa dor, tirei a sorte e voltei. Voltei.

Contudo, assim - com esse plano perfeito de ida, auto-conhecimento e volta -, não é configurada a pior das estrias: deixar a pequena Fernanda, cheia de preconceitos, medos e manias ficar um pouco mais obscura e trazer à tona a Fernanda que eu sou hoje, que sabe muito menos sobre o mundo, a vida e as coisas e se diverte muito mais com isso.

Agora ta tocando no shuffle do meu iTunes "I'm considering a move to L.A". A música, que na verdade se chama "Move to L.A." e é do Art Brut, fala basicamente de como o autor sonha com uma vida cheia de diversão, sol e calor em LA, longe do "bloody english weather". Apesar de muita gente pensar que o apê na Independência é a minha LA, eu tenho enxergado mais como uma viagem à vida adulta que como uma forma de manter os hábitos não usados na adolescência. California dreaming on such a winter's day...

A sensação é delícia (NEVES, Felipe), mas há uma comoção. Eu, que sou a louca que não deixa ninguém entrar no seu quarto (a.k.a mundo; cabeça) estou aqui, descontando tudo, arrumando as malas, deixando coisas para trás (além de pedaços do coração), pronta para montar um novo quarto, um novo mundo, uma nova cabeça.

Vai ser uma vida boa, sem dúvidas. Mentira.
Corrigindo:
vai ser uma vida boa, cheia de dúvidas.

Que venham as marcas brancas.

Um comentário:

.... disse...

que bonito, fê.