Chuva. Calor. Ela corre pra dentro da lotação que está quase completamente vazia, exceto por uma senhora gorda, de uns 40 anos, sentada sozinha no banco atrás do motorista.
- Pessoal, ainda faltam 7 minutos para a lotação sair, mas eu vou sair agora porque eu quero passar na padaria - diz o motorista em pé e com ar de humorista frustrado, o mesmo daqueles tios que fazem churrasco sem camisa apesar de terem o físico bem parecido com o da vaca cuja carne espremem contra o metal afiado.
Entra um casal.
- Pra ele eu não vou dizer que eu vou passar na padaria porque ele é muito grande - piada de tiozão (2).
Ela já não está mais ouvindo. Pega o telefone e liga para uma amiga. Algumas risadas ao telefone e um grande "ooooooooooohhhhh" depois, desliga e passa a ouvir rádio. De repente:
- Crrrrrrrrrrrrrrrrrr - pneus deslizando no asfalto escorregadio daqueles dias mais nojentos de chuva. Alguns gritos tímidos. Ela e quase todos os passageiros vão parar no chão da lotação. O motorista ri descontroladamente.
A viagem segue normalmente. Até que…
- O senhor pode, por favor, parar na esquina com a Santo Antônio? - pergunta polidamente ela.
- Não - responde o motorista.
(risos levemente constrangidos) - Não? Por que não?
- Porque eu não quero que você desça da lotação - motorista com ar desafiador, uma sobrancelha mais erguida que a outra e cara de galã do Pelourinho.
(risos constrangidos) - Sério? Ham… mas eu posso descer aqui mesmo, então - diz ela.
A moça estica o braço. Na mão, uma nota de R$ 5. O motorista fica olhando. Olha de volta para ela com a maior cara lavada do mundo. Silêncio.
- Eu te ouvi dar um gritinho lá atrás.
(pensando que ele falava sobre o quase acidente) - Sim, né. Também...
- Alguém morreu?
- Não, eu espero. Tudo bem?
- Tá ficando melhor agora. (cara de cretino)
(risos EXTREMAMENTE constrangidos)
Finalmente ele pega o dinheiro, entrega o troco. Errado. Ela não reclama e desce. Ele buzina insistentemente até ela entrar no prédio.
domingo, 21 de fevereiro de 2010
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